No próximo dia 16 de março, acontece a abertura de Fotografias, manipulações e apropriações, exposição de Vera Chaves Barcellos, que contempla quatro décadas de produção da artista com e em fotografia.

A mostra poderá ser visitada no Centro Cultural Paço Imperial até 21 de maio de 2017.

A fotografia ocupa uma posição de destaque na trajetória da artista multimídia Vera Chaves Barcellos, desde a década de 1970.  Ao longo de décadas, a artista experimentou diversos modos de lidar e transformar a imagem, a partir de uma abordagem crítica, reflexiva e estética da fotografia – entre apropriações e manipulações.

Uma parte desta história estará em cartaz no Centro Cultural Paço Imperial, no Rio de Janeiro, a partir da próxima quinta-feira, 16 de março. Selecionados pela artista, os trabalhos contemplam quarenta anos de sua produção criativa. O texto de apresentação da mostra é da crítica e teórica Claudia Giannetti, pesquisadora em arte contemporânea e doutora em História da Arte pela Universidade de Barcelona.

Detalhe: Os Nadadores, 1998.

“Manequins de Dusseldorf”, 1978

Leia o texto na íntegra:

VERA CHAVES BARCELLOS

Fotografias, manipulações e apropriações

A exposição monográfica de Vera Chaves Barcellos exibe, por primeira vez no Rio de Janeiro, um amplo panorama da obra da artista gaúcha com e em fotografia. Vinte trabalhos, desde 1975, cobrem quatro décadas de criação, nos quais convivem dois tipos de produção: obras híbridas (fotografias manipuladas e imagens apropriadas de registros da mídia) e fotografias autorais. A linguagem serial, amplamente explorada, desencadeia múltiplas associações imagéticas e narrativas.

“A filha de Godiva “, 1994.

Seis eixos temáticos principais estabelecem diálogos temporais e nexos conceptuais e formais entre as obras. Gestos: Do aberto e do fechado, O grito, L’ Intervallo Perduto e The Birds. Expressões faciais e gesticulações comunicam emoções e estados ricos em significados, que, descontextualizados, podem transitar da eloquência para o silêncio. Heróis anônimos: Os Nadadores, Menexène e O Peito do Heroi. Os desportistas, os prisioneiros e os mitos personificam condições e valores socioculturais e políticos. As intervenções nas imagens reais, apropriadas da mídia, apagam suas identidades, como também acontece com nossas histórias e memória. Despojos: Manequins de Düsseldorf e Caixotes em três tempos. Os motivos insólitos das fotografias, encontrados por acaso, vinculam a noção de despojamento com a alusão irônica à nossa cultura do consumo e da uniformização. (Des)construções: Fata Morgana, Letrados e Casasubu. Nas sequências fotográficas, a primeira explora superposições gradativas de suas partes e as outras documentam insólitas fachadas frontais de edificações, sendo que na última as manipulações criam simulacros inexistentes na realidade. Retratos: Meus pés, Auto-retrato, A filha de Godiva, Cão veneziano e Retrato. Para a construção de figuras identitárias, sejam estas as de um carro, uma pessoa ou um animal, a artista recorre a ópticas singulares. Arte sobre arte: As you like, Jogo de damas e Zócalo. As reflexões acerca da arte, características do seu trabalho, ironizam sobre a arbitrariedade dos critérios de valor na arte e questionam os esteticismos de certos tipos de pintura.

Ao entender o ato fotográfico como processo e a fotografia como um campo de possibilidades e uma linguagem a transgredir, Vera Chaves Barcellos avançou no tempo e levou à prática as noções hoje tão em voga de pós-fotografia e meta-fotografia.

Claudia Giannetti

Claudia Gianetti é pesquisadora em arte contemporânea, estética, mídia-arte, e relações entre arte, ciência e tecnologia. Teórica e curadora, com formação interdisciplinar, é doutora em História da Arte pela Universidade de Barcelona. Nasceu em Belo Horizante.