O artista Antônio Augusto Bueno foi um dos artistas convidados pelos curadores Laura Cattani e Munir Klamt para realizar um trabalho especialmente para a mostra . Confira o texto do artista sobre seu processo criativo para a obra Chão de pomelos, que está se encontra no pomar da FVCB.

Foto: Isadora Neuman.

Chão de pomelos
Instalação no pomar da FVCB

Quando visitei a exposição comemorativa aos 40 anos do Nervo Óptico na Fundação Vera Chaves Barcellos, fiquei um bom tempo no pomar, olhando uma grande quantidade de frutas caídas no chão em seus diferentes estágios de decomposição, contrapondo com as que ainda estavam nas árvores.  Essa imagem ficou registrada na minha memória e por casualidade poucos dias depois recebi um telefonema do Munir Klamt me convidando para a próxima exposição na Fundação. Ele comentou que gostaria que eu fizesse um trabalho para a área externa da Sala dos Pomares. No telefonema mesmo contei  sobre o que tinha me chamado a atenção e combinamos de irmos juntos até Viamão.  Chegando lá numa tarde chuvosa ficamos conversando e disse à ele que tinha imaginado fazer um molde de uma das frutas e a partir deste reproduzir em barro uma boa quantidade para colocar embaixo de uma das árvores. Fizemos uma conta aproximada do número de cópias que eu precisaria fazer e voltei com algumas frutas colhidas do pomar para o Jabutipê, meu atelier no centro de Porto Alegre. Das frutas que trouxe acabei escolhendo um pomelo para fazer o molde em gesso.

Decidi usar diferentes tipos de argila e também fazer queimas em diferentes temperaturas para conseguir uma variação de cores. Também fiz as paredes irregulares para que cada cópia ficasse diferente uma da outra mesmo tendo o mesmo molde de uma única fruta.

A partir daí tive como prática diária no Jabutipê a cópia de um pomelo do pomar da FVCB.

Alguns meses depois cheguei ao número de noventa e duas cópias e poucos dias antes da abertura da exposição passei uma tarde no pomar que já não tinha quase frutas nas árvores nem no chão. Foram algumas horas imaginando como cada fruta cairia da árvore e rolaria pelo chão. Acomodando peça por peça sobre a grama entre folhas secas.

Este trabalho de alguma maneira faz parte e dá continuidade ao que venho fazendo já há alguns anos.  A observação das marcas deixada pelo tempo em elementos da natureza, assim como a coleta, o registro e a transposição destes elementos. Gravetos, folhas de árvores, frutos, flores e sementes do pátio do Jabutipê, das ruas, praças e parques de Porto Alegre e  também de outras cidades que tenho visitado assim como de zonas litorâneas e rurais fazem parte do trabalho que vem se transformando lentamente dia-a-dia.

Antônio Augusto Bueno

 Outubro de 2017

 Saiba mais sobre a produção do artista nos sites:

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