MODOS DE AÇÃO PARA PROPAGAR ARTE

Uma mostra de arte pública em resposta ao momento presente, que acontece de maneira descentralizada nas 27 capitais do Brasil, com 27 artistas, em 27 outdoors.

Vera Chaves Barcellos, 2020

Outdoor instalado em Brasília – DF, 9 x 3 mts.

No Calor da Hora

O que é pensar e agir “no calor da hora”? Quais as condições para se enxergar além da névoa que encobre as verdades contingentes? O que significa tomar partido em meio as turbulências que nos assolam no presente e das quais não podemos desviar? Ou ainda, projetando essas questões para o campo da reflexão estética, qual é a posição de uma obra de arte não apenas “perante as relações de produção da época, mas qual é a sua posição dentro dela?”Questão colocada por Walter Benjamin em O autor como produtor, em 1934, numa conferência para o Instituto para o Estudo do Fascismo (Paris) como uma reflexão sobre a tomada de posição dos intelectuais franceses frente à imaginação política e especificamente relacionada à ascensão do nazismo. No centro de uma pandemia que acirra as piores mazelas de nossa condição social e de nossa possibilidade de conviver coletivamente em princípios de igualdade, invocamos Walter Benjamin. Pretendemos com isso provocar reflexão acerca do fluxo dos acontecimentos devastadores dos últimos meses e o papel da arte em meio a esse caos social e político.  Apostar na arte como potência capaz de traduzir o dilema atual pretende afirmar a imagem como um traçado visual no tempo e no espaço.  Interação que se dá no presente e avança em camadas sucessivas de transmissão, toca a realidade, ou como dizia Rilke, “arde” em contato com o real. Como mecanismo de ação premente, No Calor da Hora reúne artistas que atuam nas mais diversas plataformas, adotando em suas práticas os mais variados suportes, a ocupar individualmente espaços de outdoor em 27 cidades, em todas as capitais do Brasil. Uma mostra que desafia os limites do que se pode chamar de exposição, e aspira, na vastidão de suas proporções, atingir uma dimensão poética para constituir um imaginário de representações e indagações frente às questões abrasadoras do presente.

No domínio das relações entre o conceito que propomos e seus antecedentes históricos da arte brasileira, é impossível pensar essa mostra sem evocar a lembrança das produções que se colocaram em embate direto com o público, muitas vezes na ausência de instituições capazes de enquadrá-las em suas coleções. Por isso, a mostra se apresenta na esteira dessas variadas práticas, impossíveis de nomear individualmente, mas que incluem as intervenções urbanas do grupo 3Nós3 nos anos 70 e 80, a exposição Artdoor de Paulo Bruscky e os acontecimentos poéticos urbanos de Hélio Oiticica que o levaram a proclamar que “o museu é o mundo”.

Partindo das urgências do presente, no Calor da Hora aporta novas dinâmicas para o uso do outdoor. Nas diversas paisagens urbanas que oscilam entre o vazio e uma multidão que se aglomera de modo insensato, para promover o debate e adicionar novas reflexões ao espaço heterogêneo e tensionado da rua. Considerando as restrições de circulação em equipamentos culturais e a impossibilidade de se manifestar coletivamente em decorrência da pandemia, o outdoor, em sua natureza analógica, se apresenta como uma estrutura instigante, capaz de frustrar o excesso de virtualidade que se tornou o paradigma dominante de acesso à cultura no espaço público. 

Ocupando um lugar usual e nada neutro da publicidade, a proposta abre-se às contradições inerentes ao meio, incorporando a alta voltagem de sua frequência. De certo, o caráter marginal e profano do outdoor como suporte artístico, permite o embate com um público pouco familiarizado com exposições de arte, comprometendo-o pela própria dinâmica da vida cotidiana. E nesse sentido, confronta se com uma situação de total heterogeneidade de interesses, hábitos e possibilidades. E mais do que ser configurada em acordo com a ideia de um ambiente democrático, entendimento universal e frequente relacionado ao domínio da rua, a aposta reafirma a diferença, os desejos e as crenças para promover a força que a arte tem de colidir, resistir e ampliar o campo de pensamento. E assim responder No Calor da Hora, ao que não pode mais esperar.

Artistas participantes

Aline Motta / André Komatsu / Anna Costa e Silva /Anna Maria Maiolino / Arnaldo Antunes /Augusto de Campos / avaf / Bárbara Wagner & Benjamin de Burca / Dalton Paula / Denilson Baniwa / Éder Oliveira / Gê Viana / João Pinheiro / Karim Aïnouz /Lenora de Barros / Mabe Bethônico / Mauro Restiffe / Paulo Bruscky / Paulo Nazareth / Ricardo Basbaum / Romy Pocztaruk / Santidio Pereira / Sonia Gomes / Traplev / Thiago Honório / Vera Chaves Barcellos / Vitor Cesar

Período expositivo 

31 de agosto a 25 de outubro de 2020

Idealizado e organizado por 

VIVA Projects

Curadoria 

Patrícia Wagner