Com curadoria de Raphael Fonseca (RJ), a exposição O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos será inaugurada no dia 06/05, sábado, ocupando três andares da Fundação Iberê.



A mostra individual da artista reúne 59 obras, abrangendo trabalhos desde a década de 1960 – realizados a partir da experimentação com pintura e desenho, e, num segundo momento, com a xilogravura – até obras mais recentes, destacando seu longo diálogo com a fotografia.

A pesquisa de Vera Chaves Barcellos, de 85 anos, tem como ponto de partida a relação entre o corpo e o tempo: interpretando personagens e narrativas do passado e do futuro, focando em histórias que ficaram de fora da historiografia, documentando e coletando materiais de arquivo de eventos locais ou da memória pessoal. A fotografia foi uma forma de trazer Vera de volta ao real, um olho mais objetivo para olhar o mundo ao seu redor.

Vera Chaves Barcellos. Foto de Raphael Fonseca.


A artista já participou de diversas mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Possui obras em museus como MAM, São Paulo, MAR, Rio de Janeiro, Museo Reina Sofia, Madrid, e MACBA, Barcelona, e em coleções privadas nacionais e internacionais. Destaca-se também a atuação cultural de Vera no meio artístico brasileiro. Na década de 1970, foi uma das fundadoras e integrantes do grupo Nervo Óptico (1976-1978), coletivo de artistas voltados ao debate e à produção de arte contemporânea. Além de seguir trabalhando como artista visual, ela realiza curadoria de exposições e atua como gestora da fundação que leva seu nome, localizada em Viamão/RS.

Para Raphael, a exposição é uma celebração à Vera Chaves Barcellos, uma “criadora de imagens”. “É importante observar o conjunto de obras desta exposição e refletir sobre alguns temas recorrentes ao seu campo semântico. O corpo humano – e seu interesse, como aqui dito, em fragmentá-lo – aparece recorrentemente em suas imagens; ele é pele, é enquadramento de retrato fotográfico, são as costas de um grupo de pessoas, são os Manequins de Düsseldorf. Este é um aspecto importante e talvez pouco comentado sobre a artista: seu interesse pelas imagens de grupos de pessoas e pela noção de massa. Isso se faz presente tanto pela literalidade com que os corpos surgem em suas obras, quanto pelas séries mais interessadas nas imagens de grandes cidades visivelmente afetadas pela ação humana”, destaca o curador.

Raphael Fonseca. Foto de Vera Chaves Barcellos.

Raphael Fonseca é Doutor em Crítica e História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador nas áreas de história da arte, crítica e educação, além de curador de arte latino-americana moderna e contemporânea no Denver Art Museum (EUA). Ele conheceu Vera em 2017, durante a exposição da artista no Paço Imperial (RJ). Raphael escreveu sobre a mostra para a revista colombiana ArtNexus e, neste mesmo ano, incluiu dois trabalhos de Vera, Habitat e Pequena Estória de um Sorriso (1975), na exposição Mais do que araras, no SESC Palladium (BH), em comemoração aos 50 anos da icônica obra Tropicália, de Hélio Oiticica, onde as obras de Vera Chaves Barcellos ali expostas abordavam aspectos da realidade brasileira, que, da época de sua produção até agora, pouco se alterou e até mesmo se agravou.

“O título desta mostra se apropria, com certa liberdade poética, do nome de um trabalho da artista datado de 1976: O estranho des-aparecimento de VCB. Naquele contexto histórico – o da ditadura militar no Brasil – essa frase poderia ser lida tanto como uma amarga memória às pessoas que desapareceram devido à violência estatal, quanto uma provocação em referência àqueles que tiveram de, momentaneamente, desaparecer do cenário brasileiro por perseguição política. (…) Por enquanto podemos rir do seu desaparecimento; ao mesmo tempo, melancolicamente, sabemos que um dia ele, assim como o de todos nós, chegará. (…) Enquanto tivermos sua obra e pesquisa perante os nossos olhos, VCB, felizmente, nunca desaparecerá”, afirma o curador.

 

Conversa com a artista e o curador

Às 16h do dia 6 de maio, no auditório da Fundação Iberê, o Programa Educativo promove uma conversa sobre a exposição com a artista Vera Chaves Barcellos, o curador Raphael Fonseca e o historiador da arte, crítico de arte e professor do Instituto de Artes da UFRGS, Eduardo Veras.

 

O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos

Abertura: 6 de maio | Sábado | 14h

O dia de abertura da exposição tem entrada gratuita

Visitação: até 30 de julho de 2023

Horários: Quinta a domingo, das 14h às 18h

Às quintas, a entrada é gratuita, e, de sexta a domingo, os ingressos custam entre R$10 e R$20 (Sympla e no receptivo da Fundação Iberê, somente nos cartões de débito e crédito)

Endereço: Fundação Iberê (Avenida Padre Cacique, 2000 – Bairro Cristal)

Estacionamento no subsolo da Fundação, com acesso pelo lado direito da avenida