Aracy Amaral
1981

Perceber como forma de criação
por Aracy Amaral

Não estou segura se a Vera C.B. importa realmente que seus trabalhos neste estágio sejam considerados ”obras de arte”, mas pessoalmente essa qualificação me parece desprovida de qualquer interesse. Num mundo cada dia mais especializado, de compartimentos estanques, o grande desafio consiste, realmente, em se conseguir uma integração arte-vida, perdida no decorrer dos séculos, e que, a meu ver, ela tenta obter, desinteressando-me por completo se isso se dá com uma aproximação maior da área de psicologia, por exemplo. Parece-me antes positivo que ela consiga enlear um observador com suas imagens-proposicões, quando em geral a “arte” tal como é hoje praticada, é indiferente ao público e, em conseqüência, este é apático ou mesmo hostil à produção artística. Outro dado curioso a levantar em relação a seu trabalho é a utilização da fotografia como instrumento. Não a fotografia como matriz, sobre a qual se elabora uma obra de realismo fotográfico”, mas a fotografia como fio condutor da mensagem que se quer transmitir. Ou seja: o dado poético pode freqüentemente estar na imagem proposta por Vera C. B., assim como o dado documental, porém não é esse caráter da imagem o fundamental na veiculação a proposta da artista, mas a carga que do ponto de vista dos sentidos essa imagem pode comunicar a seu leitor…

São Paulo, abril, 1981.

ARACY AMARAL.

Crítica de arte e pesquisadora com diversas obras publicadas.
Extraido do texto “Perceber como forma de Criação”, in catálogo Vera Chaves Barcellos, vários autores. Porto Alegre /RS: Espaço N.O., 1986.