No ano em que Viamão completa 275 anos, a FVCB homenageou a produção de Silvio Nunes Pinto,  artista viamonense com originalíssima criação, falecido há 11 anos e desconhecido do grande público.

De 27 de agosto a 16 de dezembro de 2016, a Fundação Vera Chaves Barcellos apresentou Silvio Nunes Pinto: Ofício e Engenho – exposição que destacou a força inventiva de um artista de vigorosa produção situada entre a artesania, o design e a arte popular.

Morto em 2005, Silvio Nunes Pinto não possuía formação artística tradicional, o que denota de modo expressivo o engenho e a originalidade do rico e diverso conjunto de trabalhos presente na mostra organizada por Vera Chaves Barcellos e Marcela Tokiwa.

A mostra reuniu desde pequenas peças como abotoaduras e pingentes de madeira até peças de mobiliário como mesas, estantes e armários; além de cadeiras esculpidas e esculturas de animais, pássaros e mamíferos, figuras humanas além de uma série completa de veículos militares e figuras do mundo rural. Grande parte das obras demonstra um agudo senso de observação do artista e algumas são portadoras de fino humor; outras são tanto representativas como utilitárias, a exemplo de uma série de luminárias, na qual traduz seu interesse pelo futebol e pela iconografia animal. A exposição reproduziu, ainda, na Sala dos Pomares, o espaço de trabalho do artista: uma diminuta casa de cerca de 10 m², onde o artista produzia seus trabalhos. No espaço, haverá a projeção de um vídeo.

Silvio Nunes Pinto: Ofício e Engenho abrangeu tanto o espectro criativo das obras como o engenho na elaboração destas e dos materiais de trabalho, constituindo, assim, uma introdução ao universo do artista, não só atrativa ao público de sua cidade natal, Viamão, como a todos os públicos de qualquer geografia.

Silvio Nunes Pinto por Vera Chaves Barcellos

Silvio Nunes Pinto nasceu em 1940, no município de Viamão, Rio Grande do Sul, pertencendo a uma família afrodescendente e numerosa, formada pelo casal e oito filhos, sendo ele um dos mais velhos.  Embora tenha inicialmente frequentado a escola durante um breve período, não se adaptou, e, mais tarde, não teve maiores oportunidades de uma educação formal, como alguns de seus outros irmãos. O pai, falecido em meados dos anos 50, foi trabalhador rural. A viúva, mulher de grande coragem e determinação, apesar de não letrada, criou seus filhos com dificuldade, sustentando-os com seus trabalhos domésticos, como cozinheira, lavadeira e passadeira. Silvio, tal como o pai, trabalhou no campo, junto a seu irmão Paulo, até meados dos anos 1970. Durante os anos de sua juventude, ambos foram jogadores de futebol amador em dois clubes da cidade.

Não temos muito claro o que impulsionou Silvio, a partir dos anos 60, a começar a fazer peças de artesania em madeira, atividade que mantém até sua morte. Trabalhou durante vários de seus últimos anos, a partir do inicio dos anos 1990, em uma pequena casa, de cerca de 10m2, junto à moradia de sua família (mãe, irmãs e irmãos), onde continuou sua produção, iniciada décadas antes.

Após sua morte, em 2005, prevendo-se que sua produção seria dispersa em doações a pessoas que não lhe dariam o devido valor, foi proposta à família a aquisição de todas as peças ainda mantidas no local. Foi nesse momento, quando entramos pela primeira vez em seu espaço de trabalho, abarrotado de esculturas e objetos os mais diversos, peças de mobiliário, equipamentos e instrumentos utilizados em seu oficio de artesão, que ficamos cientes do volume, da diversidade e da riqueza de imaginário de que sua obra era portadora.