Para o filósofo François Soulages, os anos 1970 foram decisivos para Vera Chaves Barcellos. Foi no período que juntamente  com os artistas Carlos Asp, Carlos Pasquetti, Clovis Dariano, Mara Alvares e Telmo Lanes  idealizou o grupo Nervo Óptico. O post destaca o trabalho A respeito do SorrisoKeep Smiling, de 1977, veiculado em um dos cartazetes do N.O.

Inconformados com o direcionamento que o recente mercado das artes ditava sobre a produção artística, um grupo de artistas se reúne em 1976 e, através da publicação de proposições conceituais, forma o chamado Nervo Óptico.  Valorizando mais o processo criativo em detrimento do produto final, os artistas do Nervo Óptico buscaram referências na arte povera, na mail-art, nas práticas artísticas que articulavam a arte à vida; preconizando poéticas visuais como happenings, performances, intervenções no espaço urbano, ações sobre e na sociedade contemporânea, fabricação de objetos efêmeros, além do uso experimental da fotografia.

Em sentido estrito, conforme a pesquisadora Profª Drª Ana Albani, Nervo Óptico é uma publicação na forma de um cartazete impresso em off-set, P&B, com tiragem em torno de dois mil exemplares, 32x22cm, destinado à distribuição gratuita e apresentado como uma “publicação aberta a divulgação de novas poéticas visuais”, realizado por treze edições mensais, entre abril de 1977 e setembro de 1978. A proposta consistia em que em cada número/edição do cartazete fosse apresentado um trabalho desenvolvido especificamente por um artista, integrante do grupo idealizador ou convidado.

O 7° catazete é dedicado à obra da artista Vera Chaves Barcellos. No trabalho A Respeito do Sorriso – Keep Smiling, Vera retrata amigos e a si própria com uma pequena placa de identificação, similar à usada para registrar a data em fotografias de passaporte ou registro penitenciário , com a inscrição “Keep Smiling”, continue sorrindo. A artista e pesquisadora Camila Schenkel destaca que a obra opera com dois paradigmas da linguagem fotográfica: o retrato de proporção 3 X 4 que enquadra o rosto e parte do peito, e o sorriso.

Já a crítica Angélica de Moraes enxerga no catazete uma alusão irônica ao ambiente político de então, de vigilância constante, quando a ditadura militar fazia sangrenta repressão à oposição. “O único caminho para a sobrevivência era “continuar sorrindo” para a foto oficial perscrutadora de intenções subversivas” interpreta Angélica. Vera Chaves Barcellos, entretanto, esclarece que o caráter político não estava em seu horizonte criativo: “Minha intenção foi realizar um trabalho divertido”, declara a artista.

Para François Soulages, há uma crítica implícita na inscrição Keep Smiling referente à pressão social do bom humor e do “Tudo vai bem”, às exigências sociais da polidez, enfim.  O trabalho pode ser visto atualmente na mostra Nervo Óptico: 40 anos, em cartaz no Centro Cultural São Paulo até 12 de março de 2017, em grande formato.