Com uma produção versátil e plural, o artista Milton Kurtz (Santa Maria, 1951 – Porto Alegre, 1996) está entre os grandes nomes da história da arte no Rio Grande do Sul.

Frequentemente associado à expressão da Pop Art, ele combinou o virtuosismo do desenho a cores chapadas e vibrantes, tendo referenciais diversos, incluindo fotografias, jornais, revistas, filmes, anúncios publicitários e histórias em quadrinhos.
 

 
O processo de fatura – marcado pela habilidade manual na precisão do traço (Kurtz era graduado em Arquitetura pela UFRGS) – e a ausência de gestualidade são facilmente percebidos em seus trabalhos. Um exemplo é a obra intitulada Feixe, de 1989, pertencente à Coleção Artistas Contemporâneos – FVCB, e atualmente em exibição mostra 80’s, na Sala dos Pomares. Nesta pintura figurativa sobre papel e dotada de um forte cromatismo, denota-se uma qualidade gráfica que se aproxima do resultado obtido por meio de impressão industrial.

A forma humana, seja no âmbito minucioso do hiper-realismo, seja apenas delineada, é outro elemento recorrente. “Milton Kurtz desenvolveu a sua obra a partir da representação do corpo, o corpo humano. Corpo como veículo de relações entre corpos principalmente, mas também entre corpos e o mundo e os obstáculos do real.” Assim ressalta Mário Röhnelt (1950-2018) em um texto¹ sobre a produção do artista com quem dividiu espaço de sua vida pessoal e profissional.

É possível dizer que Feixe integra a “fase das silhuetas”, na qual Kurtz “abandona gradativamente o grafite e simplifica a representação do corpo em contornos, trazendo-lhes materialidade gráfica, como um novo campo de cor, explorando as relações conflitantes entre figuras, fundos e intersecções”, conforme menciona Marcelo Guimarães Alves em sua pesquisa² sobre o artista.

Ao longo de sua trajetória, Kurtz participou de exposições individuais e coletivas, além da atuação no Grupo KVHR, entre 1978 e 1980, e no Espaço N.O., de 1979 a 1982. Ainda que tenha partido prematuramente aos 45 anos, em 1996, o artista deixou um imenso legado para o campo da arte.
 
Referências

¹ RÖHNELT, Mário. Catálogo da exposição Pintura: da matéria à representação, FVCB, (2011), p. 60.
² ALVES, Marcelo Guimarães. Milton Kurtz, aproximações ao espírito Pop. Dissertação de Mestrado, PPGAV, UFRGS, 2009, p. 48.