Exposição 80’s apresenta uma das pinturas/objeto da artista Ione Saldanha (Alegrete, RS, 1919 – Rio de Janeiro, RJ, 2001).

Ao observar o trabalho de Ione Saldanha, é possível pensar nos limites entre a pintura e o tridimensional, a frontalidade versus o volume da composição, a abstração geométrica, entre outros aspectos que marcaram a carreira da artista.

Sem título (1982) está entre os diversos trabalhos em suportes leves que Saldanha começou a produzir a partir do final dos anos 1960.

Para Frederico Morais, crítico e historiador da arte, a verticalidade das ripas de madeira já existia nas telas da artista anteriores à transposição para esses objetos: “Suas visões ouro-pretanas ou citadinas são, em última análise, composições verticais. Ione, na verdade, nunca foi paisagista. Os sobrados e os edifícios e nestes as janelas e as portas não se pendem no horizonte distante, preparam a proximidade do primeiro plano. (…) A paisagem é interior, intimista. É por isso que ao invés da horizontal sobre a qual repousa convencionalmente a paisagem, de um modo geral fria, fotográfica, Ione prefere a vertical, que fala diretamente do homem e de sua existência.”¹

Segundo Adriano Pedrosa, Ione Saldanha representa um dos expoentes da história da arte brasileira do século XX, embora sem o devido reconhecimento. “Ao sair das molduras e passar a utilizar a superfície desses objetos, ela firmou o pioneirismo de sua maneira muito particular de pensar a pintura”². Com curadoria de Pedrosa, a maior mostra retrospectiva do trabalho da artista – Ione Saldanha: a cidade inventada – ocorreu recentemente, entre dezembro de 2021 e março deste ano, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).

Outra característica destacada no trabalho da artista é a sensibilidade cromática. Seus retângulos de cor vibram no espaço e, ao mesmo tempo, ficam concentrados e compactados na escala. “A cor é que me leva a pintar”³, resumiu Ione Saldanha em depoimento dado em 1988.

 

Referências:

¹ Trecho do texto de Frederico Morais publicado no Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1968.

² Trecho do texto de Adriano Pedrosa publicado na revista Dasartes, 15/02/2022.

³ Trecho da entrevista concedida por Ione Saldanha para a extinta TV Corcovado, 23/09/1988.