Duas obras da artista Mitti Mendonça (São Leopoldo/RS, 1990) foram recentemente adquiridas e agora integram o nosso Acervo. Prima Nina e Autorretrato (2021), da série Afetos, tiveram como ponto de partida os álbuns de família da artista, cuja pesquisa envolve memória, afeto e ancestralidade negra. “O bordado está na minha linha genealógica materna há 100 anos e essas obras são alinhavo dessa história e legado. Retratos que versam sobre tempo, troca entre gerações, protagonismo feminino negro e pluralidade”, revela.
 

Prima Nina (2021)

 

Autorretrato (2021)

 
A mescla de cores presente nas obras é inspirada em tecidos africanos, aludindo para um retorno às raízes ancestrais como uma tentativa de refazer os laços. Outro aspecto que motiva o trabalho de Mitti está no seu interesse de “colocar em pauta a valorização da arte têxtil, técnica que é tão tradicional e proporciona tantas possibilidades quanto a pintura ou a gravura”. Suas criações contemplam ainda técnicas de ilustração e design gráfico.

Sobre fazer parte da Coleção Artistas Contemporâneos FVCB, a artista considera um grande marco na sua trajetória. “Minhas obras ganham autonomia para instigar diálogos e propor debates com gerações contemporâneas e futuras, logo estarão preservadas e em movimento. Sinto que a partir disso minha pesquisa e jornada enquanto artista recebe ainda mais impulso, pois integrar esse Acervo ao lado de Vera Chaves Barcellos e outros artistas consagrados, me enche de orgulho e com certeza valoriza e legitima meu trabalho”, afirma a artista.

Soma-se a esses apontamentos a questão da presença negra nos espaços institucionais. “Sempre enxergo minha jornada motivada pela existência de outros artistas e personalidades negras, então penso que esse reconhecimento vai muito além de mim, é um fato muito significativo e importante a entrada de artistas negros e negras dentro dos acervos de instituições de arte do Rio Grande do Sul, fomentando outros imaginários e pluralidades de investigações”.