Julio Plaza, Construções Poéticas

Curadoria e organização de Alexandre Dias Ramos e Vera Chaves Barcellos.

Mostra individual de Julio Plaza realizada de 15 de setembro a 21 de dezembro de 2012, na Sala dos Pomares da FVCB, em Viamão/RS.

 

 

Em 2012, a Sala dos Pomares acolheu a primeira exposição dedicada a um único artista. Julio Plaza, Construções Poéticas trouxe um resgate inédito da produção de um artista espanhol que foi fundamental nas artes brasileiras, embora pouco conhecido do grande público. A poética de Julio Plaza foi representada por dezenas de trabalhos datados dos anos 60, 70 e 80: serigrafias, livros de artista, esculturas, pinturas e holografias.

Julio Plaza (Madrid, 1938 – São Paulo, 2003) viveu a maior parte da sua vida no Brasil e atuou como escritor, gravador, artista intermídia, teórico e professor. No país desde 1973, destacou-se pelo domínio de técnicas gráficas e por uma produção multimeios vinculada à semiologia. Foi pioneiro no campo da arte e da tecnologia, trabalhando com videotexto, slow-cam TV, holografia, fax e computação digital. Influenciou gerações de artistas tanto por sua obra como por seu papel como professor na Escola de Comunicações e Arte (ECA-USP), na Faculdade de Direito da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

 

Vera Chaves Barcellos e Alexandre Dias Ramos foram responsáveis pela organização e curadoria da exposição, propondo uma revisão expográfica inédita no Rio Grande do Sul da produção artística de Plaza, acrescida pelo aval de terem convivido ou estudado com o artista.

Artista intersemiótico e com produção multimeios, pesquisador e expert em técnicas gráficas, Julio Plaza consolidou sua obra com pintura, desenhos e objetos ainda nos anos 60, sob o vetor construtivo. Desembarcou no Brasil pela primeira vez em 1967, integrando a representação espanhola que participou da 11ª Bienal Internacional de São Paulo, e como bolsista do Itamarati, para um estágio no ESDI, Escola de Desenho Industrial do Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1969, ano em que realizou o Livro-Objeto, com o editor argentino Julio Pacello.

 

 

Pensador e teórico com reflexão aprofundada sobre os fundamentos poéticos da criação artística, e do papel determinante dos meios no imaginário digital, publicou textos fundamentais ao estudo das novas tecnologias aplicadas à arte, como Tradução Intersermiótica; Videografia em Videotexto e Processos Criativos com os Meios Eletrônicos: Poéticas Digitais, este em colaboração com Monica Tavares. A ideia de tradução intersemiótica, tema de sua tese de doutorado, perpassa toda a obra de Julio Plaza, e é entendida por ele basicamente como a transposição de uma peça literária, geralmente um poema (às vezes também uma pintura), para um outro código diferente (visual, sonoro), mantendo o sentido e o modo de funcionamento da peça original. Plaza explorou essa proposta num número bastante grande de sofisticados experimentos e abrangendo praticamente todos os novos meios. Autor de vários livros de artistas publicou com o poeta concretista Augusto de Campos, os célebres  Poemóbiles, de 1968 e  Caixa Preta, de 1975, volumes impressos que permitem ao leitor transformá-los em objetos poéticos tridimensionais e ainda o livro-poema Re-Duchamp, de 1976, obras que serão exibidas na presente exposição.

 

 

Em depoimento da artista Inês Raphaelian, “Julio [Plaza] elabora uma espécie de poesia visual que muitas vezes sintetiza os princípios característicos da pintura (espaço) e da literatura (tempo). Equilibrando-se entre o verbal e o não-verbal, promove uma fusão imaginativa entre sensível e inteligível, penetra as entranhas dos signos e ilumina suas relações estruturais.” Julio Plaza teve grande atuação igualmente como organizador de exposições desde seu estágio na Universidade de Puerto Rico, onde lecionou de 1969 a 1973 (ano em que se estabeleceu definitivamente no Brasil). Lá realizou uma das primeiras exposições internacionais de arte postal na América e, posteriormente, pela intensa colaboração com Walter Zanini, então diretor do MAC-USP, no inicio dos anos 1970. Foi curador do setor de Mail Art da XVI Bienal de São Paulo, em 1981. Em 1982 realizou no Museu da Imagem e do Som, em SP, a exposição Arte pelo Telefone: Videotexto, envolvendo artistas com produções relacionadas à poesia, narrativa e artes visuais a partir de recursos do videotexto e levada no ano seguinte para a Bienal de SP.

Em 1985, dentro da mostra Arte e Tecnologia, no MAC/USP, ele organizou uma das primeiras exposições coletivas de holografia, com obras suas e também de Augusto de Campos, Décio Pignatari, Moysés Baumstein e José Wagner Garcia, desenvolvendo conjuntamente projetos ligados à poesia concreta e culminando  numa exposição mais ambiciosa dos mesmos artistas em 1987, no MIS, Idehologia. Contestador radical e bastante inconformado com o sistema da arte ao qual criticava de maneira sistemática foi autor de vários aforismos, entre eles: “Arte é um bem que faz mal.” Seu trabalho questiona os meios, o processo, a produção, o mercado, a autoria, a crítica, a instituição e tudo o que envolve arte e cultura no contexto em que se realizam.

A FVCB, com apoio do MAC-USP, produziu para a exposição o vídeo Julio Plaza, o poético e o político,  com direção de Hopi Chapman e Karine Emerich, da Flow Films. O documentário em média-metragem foi gravado na Espanha e no Brasil traz depoimentos de artistas e intelectuais que conviveram com Julio Plaza. Vera Chaves Barcellos gravou pessoalmente em Madrid os testemunhos de Luis Lugán, precursor da arte tecnológica espanhola; de Julián Gil, veterano artista expoente do concretismo espanhol e Ignacio Gómez de Liaño, escritor e filósofo, todos, de uma maneira ou outra, vinculados à arte experimental e às vanguardas poéticas espanholas da década de 1960. No Brasil foram gravados depoimentos das artistas Regina Silveira, que foi casada com Julio Plaza durante 20 anos, Lenora de Barros e Inês Raphaelian. E ainda Cristina Freire, pesquisadora e vice-diretora do MAC-USP, Gabriel Borba, Martin Grossman e Ana Tavares, além do poeta Augusto de Campos.