Seguindo com a apresentação de obras recentemente incorporadas ao nosso Acervo, compartilhamos o trabalho doado em 2020 pela artista Dione Veiga Vieira (Porto Alegre/RS, 1954). Decantação I (2008), como o título sugere, remete ao método de separação dos componentes de misturas heterogêneas, mas vai além disso.

Decantação I (2008). Crédito da imagem: Fábio Del Re

No âmbito formal, esta instalação é constituída por uma mesa de madeira dotada de um pequeno ralo para filtragem no centro, com um suporte metálico na parte inferior que suspende um pote de louça. Sob o prisma da subjetividade, a predominância da cor branca, que também aparece em outras criações da artista, pode ser interpretada como uma metáfora para a depuração da matéria, bem como para aquilo que se evapora e, consequentemente, desaparece.

De acordo com o Sergio Gonzales Valenzuela, crítico e curador chileno, várias obras de Dione Veiga Vieira “parecem ser articuladas a partir de ‘ready-mades’ ou assemblages, objetos retificados, e sua funcionalidade se daria por um processo físico-alquímico, onde um dos seus eixos transversais seriam certos vestígios que denotam uma representação da ausência”. Este trecho integra o texto de apresentação da exposição A Liquefação e a Decantação, realizada na Galeria Gestual em 2008.

Dione Veiga Vieira iniciou sua trajetória investigando a disciplina pictórica e, posteriormente, ampliou sua experimentação para outros suportes e matérias. Seu trabalho, que já percorreu os diversos formatos, desde a pintura, o desenho, a fotografia e o vídeo, explora conjunções entre elementos: corpo e objeto simbólico, reunidos pelo estranhamento e assinalados por uma genealogia surrealista, frequentemente presente em sua linguagem visual.

Graduada em Letras e especializada em Artes Visuais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a artista provoca constantemente esse visível interstício entre artes plásticas e a literatura; assim, o aspecto semântico torna-se protagonista na leitura de suas obras.