27.10.2005
Camila Gonzatto

Vera Chaves Barcellos iniciou a sua trajetória artística nos anos 1960, trabalhando com gravura. Na década seguinte, começa a trabalhar com fotografia e outras diversas técnicas gráficas. Nessa época, também participa do Nervo Óptico e do Espaço N.O, estando entre os fundadores. Mais recentemente, Vera passa a trabalhar com instalações.

A artista já participou da Bienal de Veneza, em 1976, e quatro edições da Bienal de São Paulo. Entre as exposições recentes que participou estão: O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira, Itaú Cultural, 2005; Impressões, Santander Cultural, 2004; e Caminhos do Contemporâneo, Paço Imperial, 2002.

Desde 1986, vive entre Viamão/RS e Barcelona/Espanha. Em Viamão, a artista está trabalhando na Fundação que leva seu nome. O objetivo é que ela seja uma entidade cultural para a divulgação, difusão e pesquisa de arte contemporânea. Em Porto Alegre, a artista lançou o Espaço 0, para fazer as primeiras exposições da Fundação.

Vera participou do Programa Artista Convidado do Ateliê de Iberê Camargo, quando nos concedeu esta entrevista.

Como foi a experiência do Nervo Óptico e Espaço N.O. e como isso se refletiu na sua carreira?
O Nervo Óptico foi um cartazete que deu nome a um grupo que o publicou, do qual fiz parte juntamente a outros artistas como Carlos Pasquetti, Carlos Asp, Clóvis Dariano, Telmo Lanes e Mara Alvares. Eu, nesta época tinha recém participado da Bienal de Veneza, isto é, para mim a importância era conviver com um grupo mais jovem e cheio de entusiasmo e vitalidade. Predominava o uso da fotografia e havia muitos trabalhos coletivos. Foi uma época muito produtiva e animada para as artes na cidade, com repercussão em outros centros do país.

Como a fotografia entrou na sua carreira? E como foi se dando a transição para os trabalhos com interferências nas fotografias?
Eu já fotografava, mas só a partir de 1972 comecei a utilizar a fotografia em meus trabalhos. Passei da gravura abstrata para a fotografia. Outros meios de reprodução como a xerografia, a serigrafia e offset foram nessa época introduzidos em minha prática de trabalho, sempre com referencial fotográfico. Nos primeiros trabalhos fotográficos, utilizei textos acompanhando as fotos o que lhes direcionava um tipo de leitura, como na série t que chamei de Testartes.

Como você trabalha com as questões de apropriação de imagem e sua reprodutibilidade?
A apropriação de imagens foi muito utilizada desde os anos 60 pelos pops e outros artistas como os do movimento Fluxus, mas é claro que isso foi uma retomada do que já fora feito nas primeiras décadas por Marcel Duchamp e os surrealistas. Assim é com naturalidade que o artista se apropria de imagens da mídia, que naturalmente modificadas e re-contextualizadas adquirem um outro significado, para tranqüilidade dos defensores dos direitos autorais. (Diga-se de passagem, que se os direitos autorais tivessem sido respeitados a risca através da história não sei como se daria a evolução cultural dos povos).

Fragmentos narrativos aparecem nas seqüências do seu trabalho. Como é a sua relação com o texto, mesmo que não explícito?
Já expliquei um pouco isto na resposta 2. Na verdade, o trabalho onde o texto mais funcionou como complemento da imagem foi nessa série dos Testartes. Mas sempre considerei também os títulos importantes para a leitura de meus trabalhos. Eles sempre conduzem o espectador de certa forma. Já que normalmente trabalho com séries, a sugestão narrativa também está muitas vezes na seqüência de imagens.

Com a criação do Espaço 0 (zero), Porto Alegre volta a ter mais um espaço de exibição de arte. Qual é o projeto do espaço?
O Espaço O foi criado como extensão da Fundação VCB, para veicular as primeiras exposições que pretendemos realizar, antes do funcionamento da sede em Viamão, denominado Espaço1. Ele funciona no mesmo espaço onde atuou a Obra Aberta (1999-2002), mas foi totalmente remodelado para as novas atividades. O Espaço 0, está situado no centro de Porto Alegre e se destina à realização de exposições de maior duração que divulguem o acervo da Fundação, e com ações didáticas paralelas. Para realizar isto estamos tentando captar recursos através das leis de incentivo à cultura.

Quais são os elementos que estão lhe movendo atualmente na criação do seu trabalho? Quais são os seus próximos projetos?
A fotografia permanece como cadernos de notas e reserva de idéias para futuros trabalhos. Pretendo terminar alguns projetos em andamento que tive que deixar de lado para terminar o trabalho da Bienal do Mercosul e me ocupar de assuntos do lançamento da Fundação.