Agnaldo Farias – Curador Geral MAM/RJ

As imagens-sêmem de Os Nadadores surgiram para a artista na forma de ilustração de uma matéria publicada no jornal diário: eis que o interesse irrompe no trivial, a “madeleine” aprisionada em papéis espúrios. Como é da natureza das imagens que freqüentam os jornais, provavelmente nunca se saberá ao certo a origem dessas imagens, seja porque ali também cumprem com a massa de textos o subalterno papel de preencher o espaço que sobra dos anunciantes, seja porque por sobre elas, assim como para todo o conteúdo do jornal, passaremos nossa vista rápida e imediatamente as atiraremos ao olvido. Mas não foi o que aconteceu nesse caso. A artista, tocada, recuperou-as. Trouxe-as para a tela do computador e pensou-as à luz dos pixels. Nessa nova passagem, por certo, seus percursos anteriores reapareceram para a artista: refizeram-se os momentos únicos em que o fotógrafo enquadrou as cenas pelo seu obturador e estancou para a eternidade o movimento que elas enunciavam. O corpo do nadador fotografado continuou em trânsito: lançou-se à água, submergiu momentaneamente, reapareceu logo adiante, e seguiu flutuando em ritmo deslizante de braços e pernas, sincronizados com a respiração. Mas não para o fotógrafo que o reteve paralisado em poucas poses flutuando na emulsão do filme. Depois, o jornal. A câmara escura, as imagens regressando aos poucos da invisibilidade como se flutuassem sobre o papel fotográfico submerso na química líquida. Da foto à chapa e enfim as imagens dos nadadores repetiram-se perto do infinito, projetaram-se nos sucessivos e alucinantes mergulhos que o rolo de papel realizou nas raias das máquinas rotativas, sob uma orquestra de sons abruptos, sincopados e ensurdecedores. Estampadas, se acalmaram em seu lugar na página e ficaram prontas para serem entrevistas e descartadas.

Vera Chaves Barcellos trouxe-as para a tela do computador e consoante sua natureza dúctil e flutuante, desdobrou-as, misturou-as com cores que parecem ter sido pintadas, embora não necessariamente, posto que também dúcteis e flutuantes. Por fim, tendo-as transposto para diapositivos, projetou-as nas águas de um aquário. Como luzes as imagens flutuaram no ar, como luzes se aninharam na água e, por fim, Os Nadadores puderam dar livre curso ao seu impulso, seu ritmo flutuante de braços e pernas, sincronizados com a respiração.