A artista Vera Chaves Barcellos participa da mostra A Mão Negativa, no Parque Lage. Leia o texto do curador da exposição, aqui.

Berardo José de Souza

Les Mains Négatives, filme de Marguerite Duras inspirado nas míticas pinturas do período paleolítico superior, descobertas na caverna de Gargas, na França, serve como ponto de partida para a construção da presente mostra. Largamente inspirado na ficção-científica, este projeto pensa o espaço do Parque Lage como uma espécie de sítio arqueológico explorado por distintas civilizações no futuro distante, após a população local haver abandonado o Rio de Janeiro devido às tórridas temperaturas e à uma grande onda que deixou a cidade parcialmente submersa no ano de 2074.

Os visitantes do Parque Lage – desempenhando o papel de exploradores do futuro -, deparar-se-ão com os vestígios de civilizações pregressas: esculturas, imagens, arquiteturas e ruínas carregadas de alto teor icônico, impregnadas de simbolismo. Majoritariamente desprovida da linguagem verbal ou escrita, esta mostra busca despertar no público uma relação de ordem fenomenológica com as obras de arte espalhadas pela totalidade espacial do Parque Lage, não apenas nas salas costumeiramente dedicadas à arte – hall de entrada e cavalariças -, mas também pelas arquiteturas adjacentes ao palacete, quais sejam, a gruta, a oca, a torre, o aquário, a lavanderia dos escravos, além da própria floresta.

Amparada na percepção do espaço como resultado da acumulação desigual de tempos, conforme postulado pelo geógrafo Milton Santos, A Mão Negativa entende o Parque Lage como uma geografia onde convivem distintas temporalidades paralelamente, camadas que se sobrepõem ou justapõem constituindo uma dimensão atemporal, na qual passado, presente e futuro são permeados pela ficção engendrando uma zona heterotópica, que obedece a sua própria lógica, interna e fechada, portanto descolada da realidade do mundo exterior.

Embora o conjunto de obras selecionadas para este projeto não trate objetivamente de ficção científica, ele sinaliza um mundo em transformação, onde o corpo e as formas reconhecíveis, quer seja na natureza ou mesmo no universo da cultura material, sofrem alguma espécie de abalo, mutação, tanto em seu organismo como em sua estrutura ou arquitetura.

Um arco de artistas que envolve nomes, gerações e nacionalidades diversas contribui para a concepção de um universo de tintas pós-apocalípticas, cujos matizes estéticos e políticos apontam para o atual cenário filosófico e cultural constituído em uma zona de contrastes e discrepâncias, a qual constantemente nos demanda olhar para o passado mediante a revisão histórica, e projetar o futuro sobre bases tão precárias e provisórias quanto a nossa capacidade de articular conceitualmente o período em que vivemos.

 

A Escola de Artes Visuais do Parque Lage inaugura no próximo dia 20 de junho de 2015 a exposição “A mão negativa”, com curadoria de Bernardo José de Souza. projeto integra o programa Curador Visitante, com cerca de cinquenta obras de 38 artistas brasileiros e estrangeiros que ocuparão diversos espaços da EAV Parque Lage – Palacete, Cavalariças, Torre, Gruta, Lavanderia dos Escravos, e a área verde, como o Lago dos Patos – com esculturas, objetos, vídeos, videoinstalações, fotografias e performances.

“A Mão Negativa” abrangerá ainda uma conversa aberta ao público com Bernardo José de Souza e a diretora da EAV Parque Lage, Lisette Lagnado, no próximo dia 23 de junho, e sessões especiais do Cine Lage, nos dias 26 de junho e 31 de julho, com exibição de vídeos dos artistas Cyprien Gaillard e Dominique Gonzalez-Foerster, e do filme “Orpheus” (1950), de Jean Cocteau.

Bernardo José de Souza reuniu trabalhos dos artistas brasileiros Avalanche (coletivo formado por Virginia Simone, 1976, e Matheus Walter, 1982), Barrão (1959), Cinthia Marcelle (1974), Cristiano Lenhardt (1975), Erika Verzutti (1971), Leo Felipe (1964), Leticia Ramos (1976), Luciana Brites (1974), Luiz Roque (1979), Mauricio Ianês (1973), Michel Zózimo (1977), Rafael RG (1986), Ricardo Castro (1972), Rodolfo Parigi (1977), Tiago Rivaldo (1976), Vera Chaves Barcellos (1938); do alemão Stefan Panhans (1967); dos espanhóis Daniel Steegmann Mangrané (1977) e Sara Ramo (1975); dos franceses Audrey Cottin (1984), Cyprien Gaillard (1980), Dominique Gonzalez-Foerster (1965), Pablo Pijnappel (1979), Marguerite Duras (1914-1996) e Jean Cocteau (1889-1963); do italiano Tomaso de Luca (1988); dos lituanos Elena Narbutaite (1984), e Gintaras Didžiapetris (1985); e da portuguesa Susana Guardado (1971).

Exposição “A Mão Negativa” – programa Curador Visitante

Abertura: 20 de junho de 2015, às 19h

Visitação: até 6 de agosto de 2015, diariamente, das 10h às 17h

Local: EAV Parque Lage – Rua Jardim Botânico, 414, Jardim Botânico

Curadoria: Bernardo José de Souza

Conversa aberta com Lisette Lagnado e Bernardo José de Souza: 23 de junho de 2015, às 19h

Cine Lage Especial: 26 de junho e 31 de julho, com exibição de vídeos dos artistas Cyprien Gaillard e Dominique Gonzalez-Foerster, e do filme “Orpheus” (1950), de Jean Cocteau.

Entrada gratuita

Programação completa: www.eavparquelage.rj.gov.br

Mais informações: 21 3257.1800 e 21 3257.1840